31 de dez. de 2010

Retrospectiva 2010:

essa coisa de ano novo, pra mim é data inventada.

mas pensar que tem coisa que não acaba com o ano, que tem coisa que não passa nem com promessa, que não tem solução pra tudo, dá vontade de entender o porque é que nem tudo precisa de solução.

ou que solucionar nem sempre é por fim, que solucionar pode vir a ser começar, ou recomeçar.

aproveitando a "invenção de moda" para fazer um balanço, tenho muito o que agradecer.
2010 foi um ano lindo. inesquecível. mas o que faltava na última virada, ainda falta hoje.

espero estar achando o caminho.

22 de nov. de 2010

4 anos se passaram e me sinto na obrigação de repetir:

eu, um pedaço de quase nada,
hoje sou ainda menos.
me falta um pedaço, um laço, um braço.
me falta um abraço.
me sobram sonhos, me falta chão.
falta pé na terra. sobram elevadores.
e eu relevo e me elevo.
E o chão, cada dia mais longe,
é ainda alento.
e eu tento.

21 de nov. de 2010

Cabeça vazia, oficina da auto-crítica?



Dentro, bem dentro, há um misto de desapontamento e decepção.
Parecidos, mas diferentes.

Não quero crer na tormenta, com tanto sol batendo na nuca.

Procuro entender o que falta; descubro que este é meu estilo de vida.
Ando vivendo de fugir do que não quero, e não de buscar pelo que quero.

Não sei se sou eu que escondo minhas capacidades, ou se são os outros que não as querem ver. Mas continuo dando tudo de mim, mesmo que doa.

Continuo incompreendida, incompreensível, incompreensiva.

Infeliz? Me recuso! Mas vivo em busca do que falta...
Queria que a falta tivesse nome, queria não me envenenar do sistema, queria amar sem este medo que me entorpece, queria me expor por inteiro, sem medo algum da opinião alheia.

Me sinto fraca para lutar contra mim mesma. Me sinto culpada da minha falta de fé na vida. Me sinto incomum, inadequada, deslocada. Não sou o que esperam que eu seja, não quero o que se espera que todo mundo queira da vida. E fica a questão: onde achar um ponto de equilíbrio para ter o que todos tem, viver como todos vivem, sem sofrer o remorso de estar me obrigando a ser quem eu não sou?

27 de set. de 2010

Com ou sem parênteses?

Faz tempo, foi-se embora aquela expectativa toda.
Aquela euforia a cada pequeno passo. (Seria esta a química da paixão?)

Foram-se as lágrimas, ficou uma mágoa pequenina e insignificante.
Foi-se a agonia à espera do amanhã, vieram as certezas das precipitações de ontem.

Foi-se o ódio ao me confrontar com seu telefone desligado;
Ficou somente a constatação. (Sem julgamentos!)

Foi-se a certeza de que fiz tudo certo. (Ficou a certeza de que fiz tudo que pude.)
(Foi-se a certeza de que não te magoei) Ficou a dúvida sobre o que te fiz sentir.

Faz tempo, entendi que algumas coisas permaneceriam...
Impregnadas nos tecidos, nas narinas, nos desejos, nos sons, nos lugares.
(Desisti de lutar contra; bobagem! Somos mesmo bastante parecidos.)
Melhor pensar que algumas coisas também permaneceram em você.

Há pouco, admiti pra mim mesma os meus atropelos;
Entendi que te fiz mal, querendo te fazer mais homem.
Tive vergonha de mim; entendi que eu mesma ainda não era tão mulher assim.

Aquelas coisas, as que permanecem, hoje não me tocam mais tão profundamente.
(Pode ser que toquem, mas simplesmente pelo que realmente são, não mais pelo significado que eu gostaria outrora de decifrar em cada vírgula.)

Bom saber que minha música ainda toca no seu repertório,
Que você ainda se encaixa no meu colo.
(A paixão que me tirava os sentidos foi-se embora, mas) O gosto é o mesmo.

Aliás,
Acho que agora gosto mais de você arroz-com-feijão do que capelleti de espinafre.
(Ficou na minha memória um gosto latente de boca suja de cotidiano.)

Gostaria bastante do sabor suco de laranja fresco no café-da-manhã preguiçoso de um domingo qualquer (completamente despretensioso):

E você pediria (com aquele tom manso de quem sabe o que quer) que preparasse seu suco (porque não compactua com meu café), sem hesitar em me ofender com seu comodismo.

E eu já o teria feito (enquanto fervia a água, juntava as bagunças e te via dormir aquela hora a mais de sempre) sem hesitar em concordar com seu comodismo, sem reclamar da sua preguiça, sem te chamar de filhinho-da-mamãe. (Porque gosto de você manso, espalhado, menino criado a pão-de-ló)

E ouviríamos as músicas que um dia me enlaçaram no seu bom-gosto musical,
E daríamos risadas da fuga estratégica da animação do sábado dos nossos amigos.
E manteríamos o ritmo lento e a respiração carregada que deve ter um bom domingo,
Sem pensar no amanhã.

(Porque agora, tomada deste sentimento sem-nome mais maduro mas ainda completamente puro, entendo que é assim que todas as coisas devem ser.)

14 de set. de 2010

Do dilema da falta

Vai-se abrindo, cá dentro, um ponto ínfimo de dúvida.
A dúvida vira buraco.
O buraco é falta.

A falta é certeza da ausência.
De que? De quem?

Já nem sei.

Sei que o buraco cresce, e machuca.
Sei que o buraco está em mim, mas não é meu.

A falta que faz o encaixe do buraco é fome negra,
É sapo engolido, é dor de cotovelo,

É falta. É dúvida. É solidão.

13 de set. de 2010

Naquele lugar

Por aquela estrada,
Naquele caminho sem luzes e sem placas,
Vamos perdendo as referências,
Nos desnudando dos nossos preconceitos habituais,
Voltando a ser nós mesmos.

Por aquele caminho certeiro,
Passando por aquelas cidades minúsculas,
Vamos dizendo das coisas da vida,
Vamos pensando nas coisas do tempo,
Vamos ouvindo as canções que nos embalam.

Noite afora, chegamos naquele lugar:

Aquele lugar que é só nosso.
Aquele lugar onde as coisas acontecem.
Aquele lugar onde as mãos se tocam,
Onde a noite é silêncio,
Onde a cama é simples e os pensamentos vazios.
Aquele lugar onde podemos ser nós - juntos.

Em que nada é preocupação, em que tudo é amor genuíno.
Naquele lugar em que nós somos nós e existe um sentimento puro, livre da opinião alheia, banhado pelas águas limpas, cultivado com pé-no-chão.

Naquele lugar...

12 de set. de 2010

Das dúvidas do sentir

- Eu teria direito, ou simplesmente agiria por impulso?

Sentira falta, admitira. Apesar de guardar consigo uma mágoa de dor mal-resolvida, não conseguia sentir aquela obrigação dos orgulhosos de se afastar e se enraivecer.

- Se o orgulho não vence a falta, será que o sentir seria maior que a dor?

Se desdobrara em sentimentos confusos, em braços escusos, mas não mais firmara certeza em outro alguém. Quisera sumir, abandonar; quisera não-sentir. Não podia.

- Não podia, ou não queria?

Quisera não querer. Quisera esquecer, apagar, afanar o sentir e afagar o orgulho próprio. Mas nada a fizera enxergar este orgulho vencendo o sentir.

- E o sentir, é possível nomear?

Quisera entender, compreender, quisera esclarecer, nomear, renomear, soletrar, se fosse possível. Tinha sempre uma venda nos olhos dividindo o sentir em partes impossíveis de se juntar e classificar.

- Qual o problema da dúvida?

Tentara entender como conviver com a dúvida. Não conseguia. Tentara perdoar, tentara esquecer, tentara não sentir. Nada resolvia. A dúvida a impedia de agir.

A cabeça não deixara falar o coração.

Buscava, então, nos braços daquele afago de outrora, entender a 'querência' do seu sentir.

29 de jul. de 2010

e se...? ou - lá em pandeiros!

e se eu fosse capaz de dizer o que ninguém disse ainda?
e se eu pudesse?

e se eu entendesse à tua alma melhor do que conheces, maior do que compreendes?
e se tu não quisesses?

e se fosses capaz de ver, nas entrelinhas dos meus olhos tristes, quais são meus reais desejos?
e se eu permitisse?

e se meus olhos se abrissem ao tocar dos teus e fossem juntos, bem mais que dois?
e se pudéssemos tentar?

e se tudo o que disseram sobre nós fora uma doce verdade?
e se quiséssemos?

e se tentássemos, e fugíssemos, e nos escondêssemos além da mata, ao lado da cachoeira, onde mais planejamos nos guardar do mundo, nos abrir um pro outro?

e se ficássemos, pra sempre, e se nos uníssemos, e parássemos o tempo, e se não pensássemos mais em nada?

13 de jul. de 2010

Se você viesse

Eu limparia a terra,
Eu plantaria a horta.
Eu pintaria as janelas de azul anil.
Eu varreria os ventos das canções mal-acabadas e sopraria a poeira de dias infelizes.

Eu trocaria os lençóis,
Eu pensaria em canções,
Eu planejaria o quarto que um dia seria dos meninos.
Eu tentaria não chorar todos os dias ao ver-te entrar.

Eu suspiraria todas as noites,
Eu cantaria todas as manhãs,
Eu esperaria todo anoitecer,
Eu dormiria por alguns segundos com as tuas mãos em meus cabelos inebriada com teu cheiro.

Eu seria tua,
Eu seria minha, com os pés na terra e os vestidos voláteis.
Eu seria a mãe das meninas de cabelos revoltos e dos meninos dos pés descalços.

Eu ensinaria a plantar,
Eu colheria do pé,
Eu escolheria o sabor.
Eu alimentaria a eles, e a ti, como a mais devota das mulheres.

Eu teria mais fé,
Eu seria mais mulher,
Eu teria mais amor,

Se você viesse.

21 de mai. de 2010



De que adianta se esconder do mundo, se munir de argumentos, se armar de escudos, e máscaras, e tantas faces, se quando o mundo quer, corre água por todo lado, que pode te tomar de gratas surpresas ou desgraças e moléstias imprevisíveis e pode ser que não haja pé capaz de correr do que está por vir?

será que está aí o erro?

acho que não me meto em relacionamento nenhum, aliás, nem cogito, sem antes pensar nos filhinhos, no sossego, na casa escondida, na horta no quintal. (às 02:45 da manhã numa conversa um tanto filosófica)

11 de abr. de 2010

das coisas que carrego comigo

carrego aqui dentro uma certeza:
de que a vida é sempre bonita, mesmo que por caminhos tortuosos.

carrego comigo a fé:
em mim, nos outros, no homem, no Homem.

carrego nos ombros dores dos outros, paixões mal-resolvidas, saudades eternas.

carrego um sorriso largo:
sorriso que não sabe se fechar, mas que nem sempre é sinal de felicidade; mas que jamais é falso. sorriso pra mim é filosofia de vida.

carrego nos olhos baixos tristeza:
talvez uma tristeza tão profunda que eu mesma não conheça bem;
talvez uma tristeza simétrica, ou assimétrica: tenho poucos e claros cílios, apesar da minha carinha de boneca.

carrego em mim uma paz de espírito que quase nunca se vê; sou furacão.

9 de abr. de 2010


em tese a vida é fácil:

acordar, comer, banhar, trabalhar, comer, banhar, dormir.

por vezes, amar. raras as doces vezes de amar.

será que é isso o que dificulta vida?

por vezes, sonhar. sonhar é um alívio pras querências.

por vezes, sofrer. sofrer é realmente preciso?


"o amor na prática é sempre ao contrário" Cazuza
pensa comigo:

frio dá fome,
fome dá gula,
gula dá vontade de comer doce.

frio com gula dá vontade de brigadeiro de colher.
brigadeiro de colher gasta meia-hora em cima da panela, mexendo sem parar.
e minha cama tá uma delícia.

e de segunda pra frente, vou ter que acordar 6:30 da manhã. todo dia.
e trabalhar o dia inteiro. trabalhar muito por um salário mísero.

mas num emprego bacana! poxa, um emprego! nem lembro a última vez que tive um... trabalho, faz tempo, sempre to trabalhando de um jeito ou de outro. mas emprego faz tempo... mas não desmereço meus trabalhos... em termos de dinheiro, talvez venha a ganhar até menos... mas, pô! empreeeego! fala isso pro seu pai, se ele prefere uns trampos ou emprego? aff! to feliz!

mas por outro lado, dói. é feio saber que meu currículo bacana vale muito em tese, mas que mal-mal eu pagarei as roupas que preciso comprar pra trabalhar bem-vestida.

aff... é só um desabafo! daqui de cima da minha cama confortável, de meia nos pés, no escurinho, curtindo preguiça no meio da tarde. talvez a última das minhas tardes de paz. talvez sonhando com a correria que virá.

pensa comigo: melhor ficar deitadinha aqui, não?

25 de jan. de 2010

4 de jan. de 2010

O ser sem palavras

Eu, tal qual Palomar, aquele de Calvino, queria morder a língua três vezes e emudecer antes de falar. Queria que me acabassem as palavras tal qual me inundam os pensamentos.

Eu, tal qual devia ser, sou mais sentimental que ele(s). E os deixo embalar a trilha sonora dos momentos de silêncio - ou de agonia - já que falam bem por mim.

Enquanto trabalho em excesso, me sobe pelo esôfago aquela intragável sensação de que ficar calada - e sozinha - literalmente dói. É como se, ao emudecer, engolisse ar para não falar - engolisse sapos para ter o tempo necessário de pensar.

Eu, tal qual no outro ano, passei por este a tão pouco findado a esmo: pensando muito, lendo pouco, tentando entender sempre mais de mim - talvez para tentar entender sempre mais dos outros.

Tentei outra vez que amor não doesse - e doeu. Pensei em desistir... mas não seria eu.

Me faltam palavras da boca pra fora - graças a Deus - mas sobra a certeza que nem sempre tudo precisa ser dito.

Bruna Veloso