4 de jan. de 2010

O ser sem palavras

Eu, tal qual Palomar, aquele de Calvino, queria morder a língua três vezes e emudecer antes de falar. Queria que me acabassem as palavras tal qual me inundam os pensamentos.

Eu, tal qual devia ser, sou mais sentimental que ele(s). E os deixo embalar a trilha sonora dos momentos de silêncio - ou de agonia - já que falam bem por mim.

Enquanto trabalho em excesso, me sobe pelo esôfago aquela intragável sensação de que ficar calada - e sozinha - literalmente dói. É como se, ao emudecer, engolisse ar para não falar - engolisse sapos para ter o tempo necessário de pensar.

Eu, tal qual no outro ano, passei por este a tão pouco findado a esmo: pensando muito, lendo pouco, tentando entender sempre mais de mim - talvez para tentar entender sempre mais dos outros.

Tentei outra vez que amor não doesse - e doeu. Pensei em desistir... mas não seria eu.

Me faltam palavras da boca pra fora - graças a Deus - mas sobra a certeza que nem sempre tudo precisa ser dito.

Bruna Veloso

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