22 de nov. de 2009

Porque Cazuza é a lição, mas Vinícius, a cartilha.

“E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu...”



“Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um grande amor.”



Lição? “Quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida.”

26 de out. de 2009

Beijos de Beco

Beijos de Beco
Kátia B
Composição: Katia B/ Laufer/ Fausto Fawcett

Eu uso batom e deixo minha boca vermelha
Eu digo que é bom e faço o que me dá na telha
E deixo que digam ,que pensem , que falem
Deixo que maltratem, desacatem por aí
Pois ninguém sabe, ninguém vê
O que eu sinto por você

Orgulho da soberba vontade
Imperativa que habita teu gozo
Inconsciente, é sonho inconsciente
Feminina fantasia que encurrala tua vida
Em beijos de beco,em beijos de beco
Na fronteira do desejo, do mistério, da vontade

Sei que a sua mente, sou a sua mente
Sei que a sua mente, sou a sua mente, sei da sua mente, seja sua mente

Sorrateria ênfase do impulso selvagem
Abandono tudo pra provocar
Sensação feminina que fascina
Sensação…

Sei que a sua mente, sou a sua mente
Sei que a sua mente, sou a sua mente, sei da sua mente, seja sua mente

dancing all night
kissing free
dance with me to make me happy
let me know you by the touch of your hands
while the world is running round and round
in your arms I disappear
eu me lembro
de voar
nos teus braços
bem devagar

9 de out. de 2009

da inevitável tarefa de ficar pra titia...

sou tão grande ao ver dos primos pequenos, que eles me perguntam porque eu não tenho filhos...

minhas amigas quase de infância: uma de resguardo, uma quase em trabalho de parto, uma quase comemorando 1 ano do gostoso do joão!

dá um pesinho de ver a vida passando, dá aquela vontade desajuizada que passa em um segundo de antecipar os filhos bochechudos mesmo com a certeza da hora errada, dá uma sensação nítida de que podia ser com você!

meu assunto atual maior é contração, batizado, lembrancinha de maternidade. pelo menos ganho uma afilhada gostosa logo logo e me contento em pageá-la. bom é que o exemplo tanto é tentador, quando é educativo...

haja juízo!

29 de jul. de 2009

bom de não ter nada, é que não há o que perder! :)

tudo que vale é família, tudo que vier é lucro, toda boa companhia é bem vinda.
todo bom vinho é dinheiro bem gasto, todo bom músico deveria tornar-se rico.

tudo que é feito com fé, suor, e amor, faz bem.

faço tudo o que posso, e não tenho nada. não tenho o que perder.




no entanto, ouço as melhores músicas, tenho bons amigos por perto, e fico pobre tomando vinho bom.

Solidão ( TOm zÉ)



Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua

Na vida, quem perde o telhado
Em troca recebe as estrelas
Pra rimar até se afogar
E de soluço em soluço esperar
O sol que sobe na cama
E acende o lençol
Só lhe chamando
Solicitando

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
O telefone chamou
Foi engano

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
E no meu descompasso o riso dela

Se ela nascesse rainha
Se o mundo pudesse aguentar
Os pobres ela pisaria
E os ricos iria humilhar
Milhares de guerras faria
Pra se deleitar
Por isso eu prefiro cantar sozinho

Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
O telefone chamou, foi engano
Solidão, que poeira leve
Solidão, olha a casa é sua
E no meu descompasso passo o riso dela
Solidão (solidão)

8 de jul. de 2009

Porque Matamos Nossos Pais (Fernando Bonassi)

Porque a velocidade tende a abalar o equilíbrio dos tempos. Porque o espaço não se comporta como antigamente e foi cercado de interesses. Porque os interesses são maiores que a satisfação e a satisfação nos mete medo. Porque a exaltação do medo é igualmente erótica. Porque a energia é magnética e os opostos se retraem. Porque há mais oposição na igualdade do que sonham nossas consciências pesadas. Porque ninguém tem culpa. Porque nos enchem o saco. Porque nos deixam levar. Porque perdemos o rumo e, quando vamos perguntar, vossa ignorância nos assusta. Porque os jogos não domam nossos impulsos. Porque não sabemos o que fazer de nossa sofreguidão. Porque as pistas estão desencontradas, os marcos foram embaralhados e as lições não fazem sentido. Porque aprendemos o que não nos serve. Porque aquilo que nos serve não pode ser aprendido nos seios maternos. Porque há um incômodo moderno nas boas causas de família. Porque a família se reúne mas não se encontra. Porque os encontros são furtivos e recheados de gagueira ou porrada, quando não os dois. Porque a inocência está acabando. Porque a violência é um princípio. Porque é preciso crescer. Porque é preciso vencer. Porque é essa a pior herança com a qual temos que nos haver. Porque o preço da vitória pode ser alto demais. Porque haverão de nos incomodar menos. Porque a renda é mal distribuída e as gerações são mal-acostumadas. Porque o conforto e a serenidade suspeita de alguns é proporcional ao sofrimento dos muitos outros intranquilos. Porque é preciso enfrentar os mistérios do mercado e conhecer os valores das bolsas escondidas. Porque os armários fervem de contratos e as apólices dormem apetitosas nas gavetas. Porque as armas dos crimes se expõem desavergonhadas nas paredes. Porque Deus prefere ensinar a pescar por linhas tortas a nos entregar desde logo o peixe da razão. Porque a razão pode ser um mistério doloroso. Porque há prazer nisso tudo. Porque o prazer se tornou incomunicável. Porque os cientistas deram pra multiplicar as explicações. Porque a natureza está sem jeito, tornando as previsões imprevisíveis. Porque o descontrole contagia os púberes e seus púbis. Porque as drogas permitidas nos viciam de idéias. Porque podemos dançar a qualquer momento. Porque a História é essa mesma e deu pra repetir-se coberta de floreios. Porque nunca foi tão difícil saber pra que lado atirar... Porque somos vaidosos. Porque temos espinhas. Porque devemos superá-los, porque queremos escondê-los. Porque somos egoístas. Porque o estigma também nos qualifica entre mortos e feridos. Porque as soluções justas são postergadas. Porque o julgamento é lerdo e a pena é curta. Porque os corpos de delito culpam a burocracia das instituições e as instituições se defendem com salários extorsivos. Porque os diplomatas e os generais costumavam estar protegidos das bombas. Porque temos pressa. Porque temos asco. Porque é uma prova de amor terrível. Porque o amor e a desconfiança estimulam-se reciprocamente. Porque os heróis são amestrados e os vilões são instruídos. Porque os lares foram destruídos e os laços foram apertados nos pescoços dos mais fracos. Porque precisamos dar um livro, uma reportagem, uma novelinha que seja, se não pudermos mais plantar qualquer esperança numa árvore. Porque estamos cansados de esperar a esperança fincar nossas raízes e morrer por último. Porque somos calculistas e a indenização não é lá essas coisas. Porque o filho do peixe é limitado geneticamente. Porque somos psicopatas sociais e algemas nos excitam a imaginação. Porque a corda roída nessa vida parece um elástico que afina quando estica. Porque é preciso puxar um cabo de guerra. Porque as palavras se perderam das coisas e tudo parece brincadeira. Porque não pensamos ser capazes. Porque não pensamos. Porque temos preguiça. Porque pensamos sempre nisso. Porque é preciso alguma estratégia e a facilidade da burrice é indescritível. Porque todos estamos, de um modo ou de outro, "evoluindo para o óbito", conforme atestam os eufemismos dos relatórios médicos. Porque o sarcasmo é maior que a gratidão e a ironia mais tolerável que o senso de humor. Porque o bom senso dá no que deu. Porque deram os sinais de sua irresponsabilidade ao nos colocarem neste mundo de sem-vergonhice. Porque não somos melhores que os piores dos assassinos, ainda que nos tenham criado por baixo das saias protetoras. Porque há silicone onde deveria haver sangue, há sangue onde deveria haver remédio e há remédio onde deveria haver solução. Porque nos empurram nas barrigas e nos lançam em competições. Porque não somos bons atletas remunerados. Porque não damos lucro. Porque somos cínicos. Porque somos coitados. Porque os modelos são menos libidinosos que as modelos. Porque a beleza pode estar escondida em todas as coisas, por feiosas que sejam, por serem de Deus. Porque há os que preferem a certeza do inferno na terra ao risco do Paraíso no céu. Porque desse trabalho todo a população já está bem cheia, ainda que possa estar procurando qualquer coisa pra fazer entre os contínuos desempregos. Porque o salário é desse tamanho. Porque a expectativa também. Porque a aposentadoria apresenta as melhores garantias. Porque a experiência não salva quem quer que seja. Porque a segurança de quem se salva continua sendo mínima. Por puro acaso. Por um detalhe. Uma mania. Porque as posições são mesquinhas e os conceitos são medíocres, mas, principalmente, porque a paz verdadeira há de custar mais caro do que esse chapéu passado entre uns poucos bem intencionados.